domingo, 8 de janeiro de 2017

Braddock 2 - O Início da Missão (Lance Hool, 1985)


Ainda que o primeiro filme retrate a guerra do Vietnã sob pontos de intercessão da política americana, trazendo uma visão mais burocrática dentro daquele conflito bélico, é em Braddock 2 – O Início da Missão, que temos de forma explícita, a tensão e o terror daquela guerra vivida e testemunhada do início ao fim. Um trabalho de roteiro e direção, que deixa praticamente de lado as questões politizadas e parte para um campo muito mais agressivo, doloroso e corajoso em muitos aspectos.


Começando de forma direta, ao mostrar um ataque aéreo liderado pelo pelotão de Braddock a um território dominado por vietcongues, o filme não perde tempo em fazer com que os protagonistas de imediato sofram uma avaria no helicóptero tendo que pular em um rio para salvar suas vidas. Todos, sem exceção, recebem o carimbo de “Desaparecido em Serviço”, um registro governamental que o Presidente Ronald Reagan dava aos soldados ainda não encontrados pelo Exército Americano em suas missões de busca. Inclusive, cenas reais de um pronunciamento da Casa Branca e do próprio Reagan, destacam a dor e a expectativa que os familiares desses soldados americanos desaparecidos sofriam na época. Essa interessante introdução, já serve inclusive, para nos apresentar os personagens principais e, lógico, os mocinhos da narrativa; entre eles, o Coronel James Braddock – personagem vivido por Chuck Norris, no auge de sua carreira – um líder militar que não só mostra valentia como demostra um respeito para com todos os membros de sua equipe. Arrisco até em dizer, que o personagem consegue ser um dos mais carismáticos na carreira de Norris, que emoldura o herói como um ser humano também fragilizado, mas que não se permite desistir diante de seus inimigos. Um típico líder de pelotão que, antes de lutar pela sua própria sobrevivência, também lutará para resgatar os seus companheiros.


Essa visão valente de líder nato acompanha o protagonista Braddock em todo o desenvolvimento do filme. Cenas mais fortes de tortura e de humilhação são inseridas de forma contundente em diversas passagens da narrativa, e quase todas promovidas particularmente pelo Coronel Yin, um inimigo com síndrome de Ditador que dominou um vilarejo e que faz de tudo para que o herói Braddock assine um documento para crimes de guerra. Vale destacar precisamente esse vilão feito pelo sul-coreano Soon-Teck Oh, já que o ator consegue exibir de forma até sutil em alguns momentos, toda a crueldade e sadismo de um comandante impiedoso.


Sequências marcantes e inesquecíveis revelam as maldades orquestradas por Yin, como por exemplo, uma “brincadeira” de roleta russa onde ele colocava seus prisioneiros diante de armas sem balas, apenas para se deliciar com o sofrimento daqueles americanos condenados. Ou a maneira que eles tratavam alguns, especificamente, como o soldado Mazilli, que era o piloto de Braddock antes da captura, e que por isso, se mostrava o mais sensível e frágil diante das torturas, já que ele não era um soldado de campo. Há uma perfeita cena que demonstra a crueldade do Coronel Yin e essa fragilidade do soldado Mazilli, quando o sádico ditador pega uma galinha – um animal por qual Mazilli havia se apegado, como estimação -  e a mata torcendo o seu pescoço friamente, para logo em seguida, jogar no covil onde mantinha o piloto trancafiado. E é penoso vermos o quanto Mazilli cai num pranto doloroso e sem forças, ao abraçar aquela ave morta, num claro senso de que até mesmo os últimos elos de humanidade e bondade nas quais ele se agarrava, estavam sendo rompidos por aquele impiedoso inimigo. Mas, talvez, a sequência mais memorável de tortura seja aquela na qual Yin coloca Braddock pendurado e amarrado por uma corda, enquanto um saco é colocado preso em sua cabeça; o detalhe mais vil, é que dentro do saco estava uma ratazana pronta para comer e dilacerar o rosto de Braddock, no que este – para a surpresa de todos os espectadores! – consegue matar o rato da maneira mais suja e brilhante possível.


Mas o filme também aponta momentos não só de dor física, como psicológica e moral. Há detalhes perversos como a tentativa de Yin chantagear Braddock ao mostrar uma carta de sua esposa que supostamente estaria prestes a casar com outro homem. Ou no escárnio e deboche feito pelo personagem François, um piloto francês que transportava ópio e prostitutas para a aldeia, e que humilha um dos prisioneiros ao deixa-lo nu diante das mulheres. Porém, um dos momentos mais pesados seja mesmo a morte de Frankie, um dos amigos e braços-direito do Coronel Braddock, que é tenebrosamente queimado vivo diante do herói do filme, que sem poder fazer nada para impedir tal atrocidade, apenas grita pedindo para que Yin cesse aquele inferno. Talvez, seja aí o ponto que Braddock tenha percebido de que não seria apenas uma questão de fuga com seus amigos prisioneiros, mas sim, uma questão inerente de retaliação! Yin precisava pagar por todos os seus crimes hediondos e desumanos realizados naquele vilarejo... e Braddock estaria pronto para finalmente se vingar.


E ainda que tenhamos inserções mais humanas vindas do personagem Nester – um soldado amigo de Braddock que havia se “aliado” à Yin por um tempo, tentando acordos mais brandos – ou da entrada do fotógrafo que diz estar com uma equipe de salvamento, mas que apenas serve para jogar uma falsa esperança no grupo de condenados, o filme exibe uma crueza e uma polida ao mesmo tempo, típica dos anos 80. E se falta um tecnicismo mais apurado na direção, o roteiro cria uma arrojada maneira de exibir um dos finais mais vingativos nesse gênero de filme. E é justamente onde a direção de Lance Hool, aliado principalmente, ao vigor ainda empolgante de Chuck Norris, fortalecem um clímax de fazer qualquer um vibrar. Vale ressaltar, complementarmente, a edição final do filme que consegue criar uma sequência perspicaz, ao mostrar Yin saindo de seu esconderijo enquanto observamos o helicóptero de resgate escapar da aldeia já destruída. Como se o final já estivesse prestes a acontecer e só esperávamos o fade out escurecer a tela... 


E eis que surge, para o regozijo máximo do espectador que acumulou toda a tensão e raiva nutrida pelo inimigo, um dos desfechos mais honestos com o sentimento de desforra típica – e quase regrada – do espectador: Braddock iria finalmente à forra contra seu algoz. É claro que, como uma figura privilegiada por seus dotes marciais, os roteiristas não deixariam de inserir um combate físico entre os dois coronéis sedentos por uma luta final triunfante. E fica tudo ainda mais extasiante, quando vemos Chuck Norris – sem dublê algum – coreografar todos os seus golpes na cara, no tórax, nas pernas, nos braços e até no fígado(!) do maquiavélico Yin, deixando claro que sua alma finalmente estaria sendo lavada, por todos os amigos que ali foram vitimados.


Braddock 2 – O Início da Missão não se torna o melhor filme dentro do gênero de guerra; até porque ele está mais para um filme de prisioneiros. Mas fica para sempre, a sensação de alívio e vibração transmitidos para os espectadores, que engrandece ainda mais a obra; escapismos esses, corajosos e necessários naquela época, e que hoje, infelizmente estão tão acovardados pelo “politicamente correto” que assola as atuais produções hollywoodianas. E já falando em Hollywood, fica aqui também a certeza de que Chuck Norris, por mais que não fosse um ator imergido em atuações premiadas, conseguia passar toda a honradez e valentia altamente precisa e correta em seus personagens mais icônicos. Norris se desprendia de exaltação ou qualquer outro glamour típico dos seus “rivais” contemporâneos de gênero, e preferia andar na linha mais crua e suja dos Golan-Globus, que sabiam exatamente extrair o melhor do ator. Não à toa, fica difícil imaginarmos um Coronel James Braddock mais polido e enxertado de super produção... e fica ainda mais vigoroso e atraente, vermos que Norris sabia caminhar com personagens mais rústicos e crus. E que por serem exatamente assim, fazia de seu intérprete e personagens, um baluarte do melhor herói sem holofotes.


E, contudo ainda, dentro de toda essa saga do militar perdido na selva, sem sombra de dúvidas,  Braddock 2 conseguiu ser a cereja do bolo e o melhor da trilogia.
 

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