Braddock 2 - O Início da Missão (Lance Hool, 1985)
Ainda que o primeiro filme retrate a guerra do Vietnã sob
pontos de intercessão da política americana, trazendo uma visão mais
burocrática dentro daquele conflito bélico, é em Braddock 2 – O Início da Missão,
que temos de forma explícita, a tensão e o terror daquela guerra vivida e
testemunhada do início ao fim. Um trabalho de roteiro e direção, que deixa
praticamente de lado as questões politizadas e parte para um campo muito mais
agressivo, doloroso e corajoso em muitos aspectos.
Começando de forma direta, ao mostrar um ataque aéreo
liderado pelo pelotão de Braddock a um território dominado por vietcongues, o
filme não perde tempo em fazer com que os protagonistas de imediato sofram uma
avaria no helicóptero tendo que pular em um rio para salvar suas vidas. Todos,
sem exceção, recebem o carimbo de “Desaparecido em Serviço”, um registro
governamental que o Presidente Ronald Reagan dava aos soldados ainda não
encontrados pelo Exército Americano em suas missões de busca. Inclusive, cenas
reais de um pronunciamento da Casa Branca e do próprio Reagan, destacam a dor e
a expectativa que os familiares desses soldados americanos desaparecidos
sofriam na época. Essa interessante introdução, já serve inclusive, para nos
apresentar os personagens principais e, lógico, os mocinhos da narrativa; entre
eles, o Coronel James Braddock – personagem vivido por Chuck Norris, no auge de
sua carreira – um líder militar que não só mostra valentia como demostra um
respeito para com todos os membros de sua equipe. Arrisco até em dizer, que o
personagem consegue ser um dos mais carismáticos na carreira de Norris, que
emoldura o herói como um ser humano também fragilizado, mas que não se permite
desistir diante de seus inimigos. Um típico líder de pelotão que, antes de
lutar pela sua própria sobrevivência, também lutará para resgatar os seus
companheiros.
Essa visão valente de líder nato acompanha o protagonista
Braddock em todo o desenvolvimento do filme. Cenas mais fortes de tortura e de
humilhação são inseridas de forma contundente em diversas passagens da
narrativa, e quase todas promovidas particularmente pelo Coronel Yin, um
inimigo com síndrome de Ditador que dominou um vilarejo e que faz de tudo para
que o herói Braddock assine um documento para crimes de guerra. Vale destacar
precisamente esse vilão feito pelo sul-coreano Soon-Teck Oh, já que o ator
consegue exibir de forma até sutil em alguns momentos, toda a crueldade e sadismo
de um comandante impiedoso.
Sequências marcantes e inesquecíveis revelam as maldades
orquestradas por Yin, como por exemplo, uma “brincadeira” de roleta russa onde
ele colocava seus prisioneiros diante de armas sem balas, apenas para se
deliciar com o sofrimento daqueles americanos condenados. Ou a maneira que eles
tratavam alguns, especificamente, como o soldado Mazilli, que era o piloto de
Braddock antes da captura, e que por isso, se mostrava o mais sensível e frágil
diante das torturas, já que ele não era um soldado de campo. Há uma perfeita
cena que demonstra a crueldade do Coronel Yin e essa fragilidade do soldado
Mazilli, quando o sádico ditador pega uma galinha – um animal por qual Mazilli
havia se apegado, como estimação - e a
mata torcendo o seu pescoço friamente, para logo em seguida, jogar no covil
onde mantinha o piloto trancafiado. E é penoso vermos o quanto Mazilli cai num
pranto doloroso e sem forças, ao abraçar aquela ave morta, num claro senso de
que até mesmo os últimos elos de humanidade e bondade nas quais ele se agarrava,
estavam sendo rompidos por aquele impiedoso inimigo. Mas, talvez, a sequência
mais memorável de tortura seja aquela na qual Yin coloca Braddock pendurado e
amarrado por uma corda, enquanto um saco é colocado preso em sua cabeça; o
detalhe mais vil, é que dentro do saco estava uma ratazana pronta para comer e
dilacerar o rosto de Braddock, no que este – para a surpresa de todos os
espectadores! – consegue matar o rato da maneira mais suja e brilhante
possível.
Mas o filme também aponta momentos não só de dor física,
como psicológica e moral. Há detalhes perversos como a tentativa de Yin
chantagear Braddock ao mostrar uma carta de sua esposa que supostamente estaria
prestes a casar com outro homem. Ou no escárnio e deboche feito pelo personagem
François, um piloto francês que transportava ópio e prostitutas para a aldeia,
e que humilha um dos prisioneiros ao deixa-lo nu diante das mulheres. Porém, um
dos momentos mais pesados seja mesmo a morte de Frankie, um dos amigos e
braços-direito do Coronel Braddock, que é tenebrosamente queimado vivo diante
do herói do filme, que sem poder fazer nada para impedir tal atrocidade, apenas
grita pedindo para que Yin cesse aquele inferno. Talvez, seja aí o ponto que
Braddock tenha percebido de que não seria apenas uma questão de fuga com seus
amigos prisioneiros, mas sim, uma questão inerente de retaliação! Yin precisava
pagar por todos os seus crimes hediondos e desumanos realizados naquele
vilarejo... e Braddock estaria pronto para finalmente se vingar.
E ainda que tenhamos inserções mais humanas vindas do
personagem Nester – um soldado amigo de Braddock que havia se “aliado” à Yin
por um tempo, tentando acordos mais brandos – ou da entrada do fotógrafo que
diz estar com uma equipe de salvamento, mas que apenas serve para jogar uma
falsa esperança no grupo de condenados, o filme exibe uma crueza e uma polida
ao mesmo tempo, típica dos anos 80. E se falta um tecnicismo mais apurado na
direção, o roteiro cria uma arrojada maneira de exibir um dos finais mais
vingativos nesse gênero de filme. E é justamente onde a direção de Lance Hool,
aliado principalmente, ao vigor ainda empolgante de Chuck Norris, fortalecem um
clímax de fazer qualquer um vibrar. Vale ressaltar, complementarmente, a edição
final do filme que consegue criar uma sequência perspicaz, ao mostrar Yin
saindo de seu esconderijo enquanto observamos o helicóptero de resgate escapar
da aldeia já destruída. Como se o final já estivesse prestes a acontecer e só
esperávamos o fade out escurecer a tela...
E eis que surge, para o regozijo máximo do espectador que
acumulou toda a tensão e raiva nutrida pelo inimigo, um dos desfechos mais
honestos com o sentimento de desforra típica – e quase regrada – do espectador:
Braddock iria finalmente à forra contra seu algoz. É claro que, como uma figura
privilegiada por seus dotes marciais, os roteiristas não deixariam de inserir
um combate físico entre os dois coronéis sedentos por uma luta final
triunfante. E fica tudo ainda mais extasiante, quando vemos Chuck Norris – sem
dublê algum – coreografar todos os seus golpes na cara, no tórax, nas pernas,
nos braços e até no fígado(!) do maquiavélico Yin, deixando claro que sua alma
finalmente estaria sendo lavada, por todos os amigos que ali foram vitimados.
Braddock 2 – O
Início da Missão não se torna o melhor filme dentro do gênero de guerra; até
porque ele está mais para um filme de prisioneiros. Mas fica para sempre, a
sensação de alívio e vibração transmitidos para os espectadores, que engrandece
ainda mais a obra; escapismos esses, corajosos e necessários naquela época, e
que hoje, infelizmente estão tão acovardados pelo “politicamente correto” que
assola as atuais produções hollywoodianas. E já falando em Hollywood, fica aqui
também a certeza de que Chuck Norris, por mais que não fosse um ator imergido em
atuações premiadas, conseguia passar toda a honradez e valentia altamente
precisa e correta em seus personagens mais icônicos. Norris se desprendia de
exaltação ou qualquer outro glamour típico dos seus “rivais” contemporâneos de
gênero, e preferia andar na linha mais crua e suja dos Golan-Globus, que sabiam
exatamente extrair o melhor do ator. Não à toa, fica difícil imaginarmos um
Coronel James Braddock mais polido e enxertado de super produção... e fica
ainda mais vigoroso e atraente, vermos que Norris sabia caminhar com
personagens mais rústicos e crus. E que por serem exatamente assim, fazia de
seu intérprete e personagens, um baluarte do melhor herói sem holofotes.
E, contudo ainda, dentro de toda essa saga do militar
perdido na selva, sem sombra de dúvidas,
Braddock 2 conseguiu ser a cereja do bolo e o melhor da trilogia.
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